quinta-feira, outubro 09, 2008

Repassando...

Educação esteve mais presente nessas eleições, afirma cientista político - Parte I
Em entrevista ao Todos Pela Educação, Fernando Abrúcio faz um balanço de como a Educação, mesmo não sendo o tema central, esteve presente no debate eleitoral.
Na avaliação do cientista político Fernando Abrúcio sobre a participação da Educação no debate eleitoral do primeiro turno, o tema “começou a ser pautado nessa eleição mais fortemente em relação à anterior”. Entretanto, ele ressalta que ainda não é o principal tema das campanhas. O professor também critica a abordagem da Educação Infantil, que foi reduzida pelos candidatos à existência de vagas nas creches, e não como “parte do processo educacional no Brasil”.
Fernando Abrúcio é doutor em ciências políticas pela USP - Universidade de São Paulo. Atualmente, professor e pesquisador da Faculdade Getúlio Vargas. Desde 2006 ocupa o cargo de coordenador do Mestrado e Doutorado em Administração Pública e Governo.
Leia a entrevista logo abaixo:
Todos Pela Educação: Em relação às eleições anteriores, a Educação esteve mais presente no debate este ano? Fernando Abrúcio: Esteve sim, principalmente nas capitais. A Educação começou a ser pautada nessa eleição mais fortemente em relação à anterior, mas ainda não é o tema central de campanha. É preciso ressaltar que houve um avanço: o tema apareceu mais nas campanhas de São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, mas não é o tema central. Em São Paulo, transporte é o tema mais discutido, no Rio a saúde, em Salvador a segurança. Cada capital escolheu um tema, mas em nenhuma delas a Educação.
Porém, é preciso comemorar o avanço da Educação no debate eleitoral, não de forma subjetiva, sob o discurso “precisamos dar educação ao povo”, mas sim, como uma política pública especificamente. Porém, ainda não é o tema central das campanhas. Talvez porque precise de mais esforço, mais mobilização da sociedade para mostrar qual é a centralidade da Educação. Neste momento, não acredito que seja um tema central da campanha porque ainda não é para os eleitores. Basta lembrar as pesquisas do Ibope em relação aos temas mais importantes para o eleitorado brasileiro. E os políticos, de alguma maneira, respondem às demandas dos eleitores. As pesquisas e os principais institutos têm apresentado regularmente que o tema mais importante para o eleitorado em geral é a saúde. Além disso, uma parte da sociedade talvez tenha outros problemas, que devem aparecer de forma mais grave e imediata no dia-a-dia, e faz com que a sociedade considere a Educação um tema importante, mas não como uma de suas prioridades.
TPE: A Educação Infantil ganhou bastante destaque nessas eleições?
FA: As creches sim, não a Educação Infantil. Normalmente os candidatos ainda falam em creches, que mostra como a linguagem ainda é anterior às mudanças que têm sido colocadas pelos especialistas. Os candidatos, em São Paulo por exemplo, falam em creches, que é um conceito menos sofisticado do ponto de vista da política pública, e anterior ao conceito de Educação Infantil, que em geral é uma linguagem utilizada pelos estudiosos e especialistas da área. O tema apareceu bastante, mas ainda como temática social geral, de desigualdade, de ajuda às famílias, e não com uma semântica de Educação Infantil. A questão da Educação Infantil está aparecendo muito como um problema social, derivado do importante crescimento de emprego, que levou, sobretudo, mais mulheres ao mercado de trabalho, que levou a uma explosão na demanda por Educação Infantil.
TPE: O debate ficou centrado na disponibilidade de vagas e não da qualidade?
FA: Acredito que sim. Ficou mais focada na necessidade de oferecer um espaço adequado para a criança não ficar na rua ou sozinha em casa. Essa mudança ainda não ocorreu na cabeça dos políticos, e talvez, nem na dos eleitores. Porque os pais esperam que na creche, o seu filho seja bem tratado, tenha uma boa alimentação e algum tipo de atividade. Mas imagine falar para os pais: seu filho começa a Educação agora aos dois ou três anos de idade. Eles não vão entender muito bem. Do ponto de vista da política pública, o País não teve uma discussão séria sobre a diferença entre creche e Educação Infantil. E tem diferença.
TPE: Houve propostas concretas para a Educação?
FA: Não vi. E, mais do que isso, o que houve foi um jogo político sobre o aumento do número de vagas. Não vi nenhuma discussão se a distribuição das vagas aqui em São Paulo é bem feita, onde está concentrada, quais locais se espera maior demanda no futuro, isso do ponto de vista da Educação Infantil. E menos ainda sobre o que fazer lá dentro. Precisa ter vaga, mas o que vai ser feito lá dentro não foi discutido. Essa discussão tem que ser levada mais a sério, porque há vários estudos mostrando que se o aluno começa mais cedo o processo educacional, tem mais chances de aprendizado. Por exemplo, se a criança começasse o processo educacional aos quatros anos, a Meta 2 do Todos Pela Educação, que prevê a plena alfabetização até os oito anos, seria fácil de ser atingida. Mas a creche ainda não é vista como parte do processo educacional no Brasil. E mesmo com o aumento de mais um ano no Ensino Fundamental, no qual a criança entra aos seis anos, ainda não está muito claro o que vai ser feito nesse primeiro ano. Talvez com isso o processo de alfabetização dure três anos. É uma tentativa para que a criança consiga aprender em três anos o que antigamente se aprendia em um. Por outro lado, pode ser um avanço, porque se der certo, haverá um desempenho melhor. E a Provinha Brasil mostrará isso. O essencial é que a sociedade comece a discutir a Educação Infantil no lugar de creche. Mas o debate continua sendo de vagas e, mesmo assim, bastante restrito do ponto de vista do financiamento ou da distribuição das vagas.

1 Comentários:

Às 11 de outubro de 2008 às 22:34 , Blogger Pod papo - Pod música disse...

Eu percebi mesmo que aqui em São Paulo a maior preocupação foi com a transporte.
Mas para mim o que deveria ser priorizado era a educação e a violência.
Concordo plenamente com o cientista, educação infantil é bem diferente de creche. Creche é apenas um lugar onde as mães que não podem pagar babás deixam seus filhos mas, a intenção dessas mães é apenas que uma pessoa cuide de seu filho mesmo, como se fosse uma babá. As mães brasileiras ainda não têm consciência de que seus filhos por menores que eles sejam já precisam de atividades adequadas, didáticas, educativas!

Beijinhos!

 

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